PLENÁRIOS DOS ESTUDANTES DO PORTO – DOCUMENTOS (1969-1970)

O movimento estudantil do Porto, diferentemente do de Lisboa e de Coimbra, não tinha Associações de Estudantes legalizadas (uma excepção era Engenharia, e durante algum tempo a CPA de Medicina, que tinha instalações no Hospital de S. João, depois proibidas), pelo que a maioria das actividades associativas eram consideradas ilegais. Isso significava que as suas reuniões magnas, os Plenários,  realizavam-se ocupando as escadas e o átrio da Faculdade de Ciências e eram habitualmente interrompidos pela polícia que carregava sobre os estudantes na Praça dos Leões e arredores. Em 1969-1970 realizaram-se uma série de Plenários nestas condições, que acompanharam a crise de Coimbra e os acontecimentos de Lisboa, tomando decisões sobre a orientação geral do movimento no Porto. Estes Plenários eram atravessados por um conflito cada vez maior entre os sectores mais radicais (ligados então aos Comités de Base) e os sectores “unitários”, ligados ao PCP. Esses conflitos manifestavam-se na competição pelo controlo dos Plenários e dos documentos aprovados, com a utilização de expedientes regimentais, interrupção de discussões, exigências de votações imediatas quando a contagem dos estudantes presentes parecia favorável a uma ou outra tendência (o “votação já” aqui publicado é um exemplo).

Estas condicionantes, divisões internas, ameaças de intervenção policial, mesmo confrontos físicos (um deles com António José de Brito, que se auto intitulava de fascista e era secretário-geral da Universidade), as más condições do lugar (duas escadarias, onde ficava a mesa que não era mesa, mas dois ou três estudantes de pé, que berravam para serem ouvidos no átrio com as portas abertas para a rua), e, por fim. a chegada da polícia que podia aparecer pelo interior do edifício ou pelo exterior, provocando a saída para o exterior onde começavam as bastonadas e prisões, tudo isto tornava os Plenários mais um comício do que uma reunião deliberativa. Entre 100 e 300 estudantes, na melhor das hipóteses, participavam, embora muitos não votassem. Numa votação, de que existe nota, apenas 62 estudantes participaram. Entre 1969-1970, o presidente eleito da maioria dos Plenários foi José Pacheco Pereira, cujas notas manuscritas incluem a  lista de estudantes que falaram (no IV Plenário), Nela se encontram  os nomes dos principais activistas do movimento associativo do Porto nesses anos: Manuel Resende, Pedro Baptista, Manuel Saraiva, João Cordeiro, Edgar Maciel, Zeferino Coelho, Nozes Pires, António Pedro Abecassis, entre outros. A informalidade destas reuniões faz com que não existam praticamente registos do que aconteceu.

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